Em pronunciamento realizado na Câmara dos Deputados no dia 26 de novembro de 2024, o deputado Luiz Couto (PT-PB) trouxe à tona uma grave reflexão sobre a desigualdade no mercado de trabalho brasileiro, citando uma reportagem publicada na revista Carta Capital, intitulada “Pirâmide da Meritocracia”. O artigo destaca o Brasil como o líder mundial em número de empregadas domésticas, com cerca de 5,8 milhões de trabalhadoras, das quais três em cada quatro não têm carteira assinada, refletindo uma herança escravocrata que ainda persiste na sociedade brasileira.
Couto destacou a
realidade das mulheres que, em sua maioria, sustentam suas famílias com um
salário médio de R$ 1.412,00 por mês, o que não ultrapassa o valor de um
salário mínimo. Diante dessa situação, muitas dessas trabalhadoras buscam
redefinir seus papéis, adotando termos como “limpadora pessoal” para dar uma
aparência mais digna à profissão, embora a exploração continue presente.
O deputado também citou
um estudo coordenado pela antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, da Universidade
de Dublin, que revela uma significativa mudança nos últimos anos: a migração em
massa das empregadas domésticas para as redes sociais, especialmente o
Instagram, um movimento acelerado pela pandemia de Covid-19. Essa transição
para o empreendedorismo digital trouxe novas oportunidades, mas também muitos
desafios sociais, psicológicos e políticos. A pesquisa apontou o fenômeno da
“plataformização” do trabalho, que coloca os trabalhadores em um ambiente
repleto de promessas irrealizáveis de sucesso.
O reconhecimento da
profissão de influenciador digital pelo Ministério do Trabalho em fevereiro de
2022, durante a presidência de Jair Bolsonaro, é um reflexo dessa nova
realidade no mercado de trabalho. A inserção dessa atividade na Classificação
Brasileira de Ocupações gerou propostas no Congresso para regulamentar a
profissão. No entanto, Couto alertou que, apesar da necessidade de
regulamentação, a ética ainda não é uma prioridade na pirâmide empreendedora
das redes sociais.
O estudo de
Pinheiro-Machado também revelou que o ecossistema do empreendedorismo digital é
dominado por um pequeno grupo de influenciadores que controlam o mercado e
frequentemente se envolvem em práticas antiéticas. Esses influenciadores, ao
disfarçarem intenções de venda e propagarem promessas de enriquecimento rápido,
criam um ambiente perigoso para os trabalhadores, que são manipulados pelo
medo, vergonha e culpa.
Por fim, o deputado fez
um apelo para que o Legislativo aborde com urgência as implicações dessas novas
formas de trabalho e regule o setor. Para Couto, é necessário promover uma
educação crítica sobre o consumo das redes sociais e garantir que todos,
independentemente de sua ocupação, tenham acesso a direitos trabalhistas e
condições dignas de trabalho, tanto no setor formal quanto no informal.
Couto finalizou seu
discurso ressaltando a importância de refletirmos sobre as práticas que
perpetuam a desigualdade e a exploração, destacando o dever dos legisladores em
criar um Brasil mais justo, com leis trabalhistas que assegurem dignidade para
todos os trabalhadores. Concluiu o deputado.
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